Às vezes te encontro nos meus sonhos os olhos aguados em metamorfose com muitos outros. Há sempre algo de essencialmente errado na sua aparência. Algo que não se conforma com a realidade. (Oito anos. Onze anos. São fendas no tempo). Pareço mais nova do que há oito anos. Infinitamente criança-artista. Em busca da infância queContinuar lendo “ÀS VEZES TE ENCONTRO NOS MEUS SONHOS”
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NOSSOS CORPOS MOVEDIÇOS
Uma mulher com um peixe dentro de um vidro de olho transparente. Um olho transparente. Uma mulher sem graça com um peixe dentro de um espaço minúsculo. Um peixe em um espaço minúsculo, sem chance de respirar ou nadar ou escapar. Uma imagem sem graça de uma pessoa sem graça – quem pinta a unhaContinuar lendo “NOSSOS CORPOS MOVEDIÇOS“
A pintura do quarto do silêncio
Sua figura é lírica e transparente, talvez levemente diáfana. Seus tons são de azul e verde — mas são cores percebidas como percebemos a luz da manhã. Acorda, os olhos confusos, o cabelo no rosto. Ela está nua e o corpo flutua nos lençóis brancos. É como se pairasse, como se não pudesse encostar naContinuar lendo “A pintura do quarto do silêncio”
Adio o momento de escrever
Adio o momento de escrever. Escrevo dentro de mim (pensamentos às vezes escrevem). As palavras no papel precisam esperar essa coisa qualquer germinar primeiro aqui dentro, minha terra úmida de palavras. A palavra é uma pedra. É duro chegar ao âmago do sentido, entender o que ela precisa dizer, criar. Não é estranho que aContinuar lendo “Adio o momento de escrever”
Palavras para O Diálogo — de Ana Luiza Alencar
Existe uma certa sensibilidade ou sutileza, por vezes incompreensível, uma espécie de perplexidade e misto de prazer e dor em ser um corpo suspenso no mundo. É muito difícil ter alguém que te compreenda nesses espaços de não-dito, nessa surpresa e suspensão permanente. Mas, eu posso dizer que tenho o imenso privilégio de ter aContinuar lendo “Palavras para O Diálogo — de Ana Luiza Alencar”
Voltei a pensar que quero morrer
Balthus, Coffee cup Todo dia sinto uma corrente elétrica de ansiedade percorre as articulações. Todo dia a respiração é difícil e a angústia torna insuportável o sustentar do meu corpo. Corpo que é poeira sustentada por panos, indo e vindo dentro do apartamento. Vou me encolhendo como num casulo de lençóis e travesseiros. Minha camaContinuar lendo “Voltei a pensar que quero morrer”
O tempo é Agora
O tempo é Agora. Instante que se expande em todas as direções. A xícara que se parte e não encontra retorno. Tempo é o Já. O passado é memória, criação nossa. O futuro, Hawkings me disse que existe, mas não sei explicar. Simplesmente é. Não me inclino sobre o que vem. Tudo é imaginação. O queContinuar lendo “O tempo é Agora”
Você, sem nome
Eles não se conhecem. Dentro da casa, não se conhecem. Quando ela entra, a sala está escura. É dia, mas as cortinas estão cerradas. De pé, ele está encostado na parede mais distante da porta. Nada dizem. Ela se senta na cadeira. Está cansada da viagem longa. Tem sede, mas suas pernas pesam. Teria deContinuar lendo “Você, sem nome”
Como, pai, nasce um poeta?
Como, pai, nasce um poeta? Meu pai foi quem primeiro me ensinou a amar a poesia e a ter os poetas ao redor dos ouvidos. Queria infinitas as histórias murmuradas na boca da infância (escrevi antes de escrever). Achava tão sábios os poetas, como podiam de palavras pequeninas lavrar sentimentos grandes. Mas eu me rebeleiContinuar lendo “Como, pai, nasce um poeta?”
Ao sair da Rússia
É como se agora, depois de ter vivido a Rússia, pudéssemos quase compartilhar de uma mesma nostalgia – não a mesma Rússia, não a mesma nostalgia. No inverno, presenciei um verão nabokoviano em Rojdestveno, quando as folhas marrons se camuflaram em borboletas a voar no campo seco e com resquícios de neve. Na casa doContinuar lendo “Ao sair da Rússia”