Balthus, Coffee cup
Todo dia sinto uma corrente elétrica de ansiedade percorre as articulações. Todo dia a respiração é difícil e a angústia torna insuportável o sustentar do meu corpo. Corpo que é poeira sustentada por panos, indo e vindo dentro do apartamento. Vou me encolhendo como num casulo de lençóis e travesseiros. Minha cama é o único local seguro.
Não olho meu rosto, porque ele me lembra de que tenho olhos. Um dia serei um caderno amarelado, esquecido em uma gaveta qualquer, e só me restarão as palavras, sem a prisão da fina pele que prende carne e entranhas.
Hoje já me sinto existir tão pouco. Um fiapo que vai da angústia do peito aos dedos que percorrem o papel. Tudo além do papel é muito pouco.
Eu me quero leve como sopro de manhã preguiçosa e pesada como grito de mãe enlutada. Talvez por querer muito e pouco, tudo ao mesmo tempo, a angústia vá crescendo até me engolir. Engolida, afundo afundo. Até então, acabei nadando de volta à superfície, cega e aprisionada. Um dia, deixarei que o peso me submerja e que a leveza me arraste, sem volta, até o miolo do abismo.