Como, pai, nasce um poeta?
Meu pai
foi quem primeiro
me ensinou
a amar a poesia
e a ter os poetas
ao redor dos ouvidos.
Queria infinitas
as histórias
murmuradas na boca
da infância
(escrevi antes de escrever).
Achava
tão sábios os poetas,
como podiam
de palavras pequeninas
lavrar
sentimentos grandes.
Mas
eu me rebelei contra a poesia
ou talvez
nunca tenha dado a ser poeta.
Como, pai, nasce um poeta?
Eu nasci para a prosa
esparramada
como criança que fala
sem parar
no silêncio
das perguntas sem nome.
Não sou poeta,
mas vejo cores
nas letras e nos sentimentos
e escrevo
como quem dá ao vento
palavras
que dançam
sobre a grama do quintal.
Pessoa com metafísica
O Pessoa
Com metafísica
Em sua cadeira sempremorta.
“Morreram Fernando Pessoa”
Sempre dizia meu pai
Que tinha sido essa
A manchete do jornal.
Ninguém, eu pensei,
Poderia ser mais amplo
Que Fernando Pessoa
Quinze anos depois
Eternizado em Lisboa
Pude me sentar em sua cadeira
Sempremorta
– Ô, Pessoa, me dá um pouco da sua metafísica.