Eu evitei essa pergunta muitas vezes, porque sabia que, para respondê-la, eu teria de retornar ao âmago da infância.
Eu sempre li muito. Minha história é também a história dos livros que li: não consigo me lembrar de mim sem um livro na mão.
Dentro da infância também houve o silêncio. Um silêncio enorme. Aos oito, nove anos já preenchia diários. Uma coisa se uniu a outra. Não sei separar a escrita da vida. Sempre foi assim.
Eu comecei a escrever para dar voz a esse silêncio e para entender o que eu sentia e quem eu era.
É por isso que escrevo até hoje. Para dar voz a silêncios. Aos meus, mas não apenas aos meus. Para mim, escrever é contato. É comunicação. É encontro. Eu quero falar com aqueles que têm silêncios como os meus, mas também com os que não têm.
Escrever é olhar bem fundo e bem próximo. É um mergulho que faz respiro. Não escrever seria morrer.